segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Cuidado Pandora! Cuidado

Todos guardam uma caixa, mas cada um esconde onde acredita ser mais seguro. Onde dificilmente será tentado a abri-la e reviver as emoções guardadas ali. As muito ruins. As muito malvadas feitas por pessoas que passam pelas nossas vidas ou por nós mesmos. Consequência do que fizeram ou do que foi feito? Já não importa. Passa uma fita , cola um aviso e guarda.


(Arquivo Pessoal)


Todas as sensações menos agressivas podem ser guardadas nas tais "gavetas" do ser. Onde você não só pode como deve revirar algumas vezes quando perceber que esta cometendo o mesmo erro repetidas vezes com pessoas diferentes, situações opostas. O erro certamente é seu e em alguma dessas gavetas terá alguma explicação da sequência de repetição. Erros causam dores , olha bem no fundo da gaveta, joga uma coisa para cada lado... estará ali. Lógico que depende da organização de cada um ( memória talvez).

Eu não guardo mágoas de ninguém. Mas preciso com urgências vasculhar mais fundo algumas gavetas. Sou organizada. Porém aconteceu um " incêndio" há alguns anos que danificou muitas das minhas memórias reais. Danificou muto de quem eu era. E quando recuperei boa parte do conteúdo todo, percebi que ao tentar organizar as folhas, as memórias e falhas. Formaram palavras muito mais cruéis do que eu conseguia me recordar. E me senti obrigada a abrir minha caixa de Pandora.
Para Pandora, na mitologia grega, era um vaso que continha todos os males do mundo, ela abriu e deixou que todas dominassem quem provavelmente somos hoje. E eu precisei fazer isso. Para esconder toda a bagunça dentro da caixa da minha vida eu precisei abrir. Fui cuidadosa,mas nunca se é cuidadoso o suficiente. Eu deixei mais coisas saírem do que guardei novas coisas.


(Arquivo Pessoal)


Eu tinha o caos em minhas mãos pronto para explodir minhas dores como uma bomba atômica . Contagiosa. Tóxica. Cheia de lágrimas de raiva, onde escondi todo rancor de muitas situações inusitadas e absurdas. Daquelas que chegamos a ser egoístas de pensar " Isso só pode acontecer comigo!" . Talvez só aconteça mesmo com alguém algumas coisas, mas a intensidade é a mesma.

Abri minhas asas tentando voar acima para enxergar o que eu havia feito. E percebi que meu avô me fez chorar. Me fez brigar , bater de frente. E hoje quando perguntam de mim ele simplesmente com toda calma diz "Ela é minha netinha" . 20 anos depois vale mesmo a pena eu ter rancor disso? Será que vale mesmo? Não obvio que não. A não ser que isso tenha causado algo á alguém que ainda é mais próximo de mim e agora tenho um novo problema. Descartei ele. O rancor disso. O agora é real.

Eu entendo que não posso mudar de um dia para o outro. Que não posso projetar minhas folhas antigas de retroprojetor em alguém. Que não devo comparar pessoas e sentir medo disso. Eu quero evoluir como qualquer jogo por aí.
Eu quero ser boa em plantas rosas e ter um jardim e não jogar xadrez e me sentir "Rainha de um império decadente" . Não lamento minha vida.

Mas quando precise abrir minha caixa. Alguns males saíram comparando pessoas com dores que senti. E vejo nos olhos de quem não tem nada com isso tudo um pavor crescer dentro de mim que me faz ser estúpida algumas vezes. Ser imprudente com as palavras. Mas não posso mais ter medo ou sentir vergonha. É isso e nada mais.
Hoje sou a tal Rainha do tal Impéria tal igual Decadente como toda essa bagunça.

Não tem culpado. Tem escolhas, tem sensações , sentimentos , medos. Mas alguém .. tem mesmo alguém que poderia carregar essa bagagem comigo pelo menos até a metade do caminho?
Porque as caixas e malas e gavetas sempre são mais limpos e leves do que os nossos. Se fosse fácil enxergar nossa vida como podemos enxergar com tamanha transparência a vida das pessoas que gostamos. Seria fácil.
Vou me manter em silêncio, para que nenhum monstro assustador azul e roxo apareça para me fazer algum mal. Para me assustar enquanto eu durmo. Não me fazer sonhar com o amanhã.
Sonhei.