domingo, 10 de outubro de 2010

Album de fotografias

Eu não fazia noção do estrago que abrir fotos antigas poderia causar em uma pessoa.
Bom,saber eu sabia.Só queria testar se isso funcionava comigo afinal com quase todo mundo funciona.
Foi estranho.Foi como desenterrar mil e um demônios e agora ao invés de apenas fechar o albúm,me sinto na obrigação de lutar com eles como não fiz quando deveria.
Certamente,90% das vidas que ali estão para sempre guardadas em alguns momentos,hoje estão viradas ao avesso.Mas ao avesso sou eu.Não entendo ainda qual a parte na história,na minha própria história que perdi.
Não entendo as culpas que carrego ainda não tendo minhas digitais ali.
Eu só queria que algumas pessoas voltassem a sorrir,mas não posso sequer cobrar isso se eu mesma já não tenho o mesmo sorriso há anos e anos e anos.

Percebi que perdi a noção do tempo.Que o momento dilacerado na minha vida aconteceu dos 15 para os 16 e não aos 18 como eu pensei.E que eu realmente quis desistir aos 15.Mas quantas coisas não queremos aos 15,pensei,tentando me consolar com as palavras que eu sempre odiei e com os rótulos que eu sempre senti nojo.Mas foi uma tentativa de consolo própria.
Não sei porque desisti aos 15 anos.Não sei porque perdi meus sonhos ali.Na verdade,sequer me lembro quais eram meus sonhos ali.Não que eu tenha uma idade ótima para comparações...mas a mesma pessoa daquela foto naquele aniverário com uma vela de 16,é a mesma que escreve aqui agora.Até a raiz do cabelo azul para retocar...

Aliás.. acho bonita a mudança geral.A forma como algumas pessoas perderam a noção do que são os valores que eu ao menos acreditei.O vazio na vida de outros ali quando alguém não está mais aqui.Ou então.. a idéia de família que alguns planejavam e hoje estão quase loucos na bagunça que criaram.
Isso não é uma crítica.Porque na verdade..eu ainda não me sinto nem um pouco á vontade para dizer sobre quem eu falo.
Não imaginaria jamais,a crueldade tamanha que a vida pode nos mostrar.E isso faz com que eu jamais aponte meu dedo para alguém.
Acho que nascemos assim... acho que nascemos para nosso próprio caos.E foi assim que eu nasci.Acostumada a viver,mas viver para o que?
Passei longos dias,talvez até meses trancada praticamente em um quarto tentando encontrar algumas respostas.Mas apenas hoje,ao abrir aquele album de fotografias,descobri quais eram as minhas perguntas,portanto ainda que eu passasse a vida inteira dentro daquele quarto eu não acharia resposta alguma sem as perguntas.

Não sei se eu faço parte daquele lugar que esta gravado para sempre até o tempo apagar do papel.Ou se eu faço parte de onde eu estou hoje,ou de onde eu estava ontem.Ou o nosso lugar é onde está as pessoas que nos importam?Mas e se essas pessoas entram facilmente como saem das nossas vidas? ficamos apenas ali? parados no meio do caminho exatamente no ponto onde elas foram embora esperando que alguém nos pegue pela mão e nos leve para um novo lugar?...para então nos abandonar ali,ou apenas até nós pedirmos que nos deixem?...então tudo volta no ponto em que você espera alguém te levar pela mão novamente?

Não.Tudo se trata de como você pode caminhar dali em diante.Do ponto onde cara pessoa foi embora.Tal como estar em um ônibus e ver as pessoas descendo cada uma em seu ponto,e outras entrando no ônibus.Não preciso dizer que o ônibus é a minha vida,mas seria certo dizer que não me importo quando alguém desce? ou eu aprendi a encontrar a minha própria saida admitindo tal verdade? meia verdade...

Algumas vezes eu sinto falta de alguém que nunca foi embora.Nunca foi embora porque nunca esteve.Então jamais poderia ir embora.Eu sei que essa pessoa não irá sumir... ainda que eu possa ter desejado,quase que brincando que sumisse mesmo.

Não tenho com quem compartilhar esses montros da minha vida.Eu adoraria contar a minha vida de verdade para alguém... mas talvez fosse bom para mim apenas.Isso não é trabalho para um profissional,para quem é pago para te ouvir.Isso é uma caridade ...
É como ouvir a vida de alguém para manter aquilo vivo.Sem compromisso,sem preço algum.
Apenas uma vontade maior do que tudo de saber quem alguém foi,porque é,o que deseja ser.

Não tenho isso meu para alguém.
Mas tenho isso,em pequenas doses de alguém para mim.

E isso não tem preço.Jamais..
Eu passaria horas e horas ouvindo coisas que ja conheço tão bem...sobre sonhos que desejo pela pessoa mais do que desejo os meus próprios.Sobre um futuro que ..

Eu só queria estar ali.

Mas agora são muitos montros em um texto só.

Não..esse último não é um monstro que me causa insônia...aliás,é uma das únicas razões que me fazem dormir para sonhar.

Acontece que as vezes,muitas vezes,eu preciso primeiro sonhar para depois dormir.
E eu queria poder olhar pela janela sem me importar com a claridade ou a hora.Sem me importar com que os outros vão falar...porque não me importa,só me causa uma sensação chata de justificativa.

Poderia eu.. acordar um dia qualquer de manhã e resolver conversar?Em um domingo quase nublado?

Talvez.
Vou levar meus montrinhos para dormir.Espero acordar sem eles.Porque dessa vez,eu estou indo domir para acordar.
Portanto se eu não acordar,dessa vez foi puro e claro azar.