quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Marina foi viajar

Marina acordou.Naqueles dias que a dor de cabeça fazia com que ela pensasse seriamente no estilo de vida que levava.Não era ressaca,ao menos não de bebidas e qualquer outra coisa do tipo.Era apenas o tempo que ela havia passado na frente do computador,editando fotos,escrevendo poemas,sonhando com as músicas vendo as imagens passarem na tela que não mostrava nada além de ícones.Muitas vezes,ela entrava em seu próprio fundo de tela,se imaginava ali naquela paisagem,fora da realidade tecnológica,apenas uma paisagem de outono.

Sonhava sobre o que sonharia então ali sentada entre as árvores,mas era muito vago,o barulho indicando que seu download estava concluído cortava esse clima pensativo.

Era verdade,apesar de ser triste,que as pessoas admiravam ela por algo que ela jamais saberia em palavras.Não havia nada de especial em sua vida á altura de ser cobiçado,porém sabia que era.Muitas vezes pensou em seus inimigos solitários,aqueles que ela não adiava,mas á odiavam por caridade.Uma vida sem inimizades poderia ser pior,ela se consolava entre uma risada ou outra.
Pensava então nos amigos,aquelas que ela havia chamado de amigos e hoje não passavam de nomes em sua agenda e imagens espalhadas pela casa... mas não se importava.Marina sempre pensou que quando uma pessoa começa a andar em uma estrada paralela á sua,ou apenas pegava o primeiro atalho e desaparecia de sua vida,era algo relacionado ao que chamam de destino.E assim,ela aceitava esse destino sem muito reclamar de suas perdas.

O futuro parecia promissor.Ela era jovem.Jovem de espírito se é que me entendem e isso,não há anos que apaguem,não há nada que pague.Saber viver a cada dia.Mas apesar de pensar isso,de ter seus sonhos escritos em pedaços de papel,ela sabia que a realidade é que ela gostava mesmo de viver atrás de uma tela,e acordar naquela ressaca moderna.

A sociedade diria que Mariana é preguiçosa e que deveria acordar para a vida,já Freud diria que ela não sabia se relacionar com pessoas um pouco mais "reais",mas ela sabia!Socializava até com o Psiquiatra que acaba por contar sua própria vida á ela.Não parecia anti ético... apesar de que ela conseguiu que o Psicólogo também contasse mais sobre ele do que escutasse sobre ela.

O que teria ela para reclamar? quais seriam suas questões em pauta na sessão? Não sofreu abusos em familia nem fora,os pais os amigos e conhecidos á tratavam bem,ela apenas não queria quebrar uma casca,tal como uma bolha que á envolvia carinhosamente em um mundo sem preocupações.

Porém um dia sua própria mente começou a se voltar contra ela.Já não dormia mais,eram pensamentos constantes,não parava mais de escrever,escrevia sua história,escrevia contos,o que gostaria de viver,o que via na vida das pessoas e então sua vida começou a parecer tão menor do que já era.
Ela se acostumou tanto á observar,escutar,relatar isso,que perdeu sua própria identidade.Então começou e tirar fotos de sí mesma.Uma forma de provar que ela era real.

Já não havia muito o que fazer.Sua mente estava inquieta,mas seu corpo calmo.Vez ou outra,sua mente ficava vazia,então ela dormia durante dias...

Eu sei que ainda posso discar um número e conversar com uma menina,agora já uma mulher animada,alegre.Posso encontra-la na rua e ter umas das melhores conversas da minha vida.Posso pedir conselhos,posso contar com ela,posso usá-la como espelho para tudo o que eu gostaria de viver.

Mas no fundo.Poucas pessoas sabem que a vida de Marina vive por um fio.Que ela é tão sozinha,tão vazia,tão cheia de boas intenções que a única coisa que a mantém viva é saber que a morte não é a calma que ela procura.A morte não passa de uma continuação de concertar nossos erros... e há tantos erros que Marina precisa concertar que vale mais ficar viva do que encara-los.
Seria essa a questão em pauta no Psicólogo?
Eu jamais saberia.
Ninguém pode saber..

Porque Marina é assim..
Como o vento.
Como a chuva de verão.

E o que o vento e a chuva de verão causam?

Uma breve porém boa sensação.

E a certeza de que nós deveriamos manter nossos sonhos no altar...

Para não acordar na mesma ressaca que eu... quer dizer,que Marina.