terça-feira, 14 de setembro de 2010

No divã da Cynthia

Eu não conheço o mapa da mente de todas as pessoas,isso parece um tanto quanto óbvio,talvez até eu seria completamente assustadora se eu soubesse exatamente a direção certa para indicar ás pessoas.
Mas na verdade,existe uma coisa muito mais interessante do que dar conselhos e ouvir o que as pessoas muitas vezes precisa dizer.É apenas juntar peças que estão espalhadas durante o que a pessoa conta,e isso você pode sentir,você pode ver no olhar,ou eu posso.I'm so freak.

Eu juro que não escolhi essa vida.Juro que eu só queria ir até a padaria comprar um Halls e não passar 2 horas ouvindo a história de amor de alguém que vive na rua.
Mas tudo começou assim.

Eu estava sentindo a brisa da rua aqui de cima*,quando alguém me chamou de puta intrometida.Lógicamente eu não pensei que era comigo,aliás eu só estava ali refrescando as minhas próprias idéias,então não sobraria tempo para me intrometer na vida daquela mulher,que apenas estava ali do lado com suas coisas na rua.Eu olhei então,mas nem um pouco assustada,tinha muita gente passando,não parecia nada grave.No entanto era realmente comigo mas não deveria ser para mim.A mulher então me olhou,pediu desculpas e disse:
- Tem muita gente que passa aqui na rua me encarando só porque eu vivo assim,eu te confundi com uma moça que passa aqui,desculpa.
-Tudo bem..
-Você me perdoa mesmo? eu juro que confundi você,não queria te ofender
-Tudo bem mesmo - e sorri meio sem graça.
-Sabe,eu queria entender porque a minha vida seguiu esse rumo.Minhas irmãs tem casa,minha familia tem tudo e eu não tenho nada.
- Eu não sei porque essas coisas acontecem..
- Você acredita em alguma coisa? algum Deus?
- Ah.. eu não sei te dizer e não sei no que você acredita,mas eu acredito no que eu vejo... e como vejo.
-Você também vê algumas coisas estranhas?
- Por que? você vê algo?
- Alguem me acompanha,não sei se é um guia ou alguém para me atormentar.

Nesse intervalo de conversa,ela xingava algumas pessoas que passavam e achavam estranho eu ali parada conversando com a mulher e realmente o preconceito estava na cara de todos.
Eu continuei

- Não sei se é um guia,mas você precisa ser menos agressiva com essas pessoas...
-Você esta defendendo eles?
-Não..só acho que talvez eles tenham uma vida vazia,sei lá.
-Eu acho que eles são preconceituosos e tem tudo,me veem aqui sem nada e sente inveja.- Hum..pensei
- Eu acho que talvez essas pessoas tenham carro,mas contas para pagar,maridos,mas não querem chegar em casa porque podem viver um relaconamento fracassado.Todos podem ter tudo e ao mesmo tempo nada.
-É ..você tem razão,mas eu não aceito.
-Enquanto você não ignorar os olhares você não vai conseguir tempo para resolver a sua vida,escolher para onde ir.

Então ela me contou sobre algumas pessoas que de graça resolveram ajuda-la

-Eu acho mesmo que você deve se apegar á essas pessoas que te ajudam, e não ligar para os olhares.

Então ela me disse que era aquariana.Falamos de signo.Ela me recriminou por ser de Virgem.Não sei qual a atração e repulsa entre virgem e aquário,mas sempre rende boas conversas.
Ela me pareceu mais calma.Abriu uma mala que tinha mais livros do que qualquer outra coisa e me mostrou alguns e me contou sobre eles.

Então me contou um romance,com outro andarilho.Era uma história triste sobre ele querer ficar com ela,mas depois mudar de idéia e arrumar outra,mas depois aparecer para ela e a culpa dela era ter dito não.
Me senti na obrigação e muito mais necessidade de compartilhar uma história com ela.Ali,era claro que eramos iguais,certo?
Ela sentiu muito pela minha história e disse que o futuro era interessante.Que talvez acontecesse (essa parte deixa pra lá)
Eu disse que da próxima vez que ela encontrasse com ele,por mais que ela sentisse raiva dele não ser SÓ DELA,não disesse não.Se era tudo o que importava,se ela sonhava com ele dormindo e acordada,se ela queria aquele homem acima de tudo,perderia o que em tê-lo apenas mais uma veez antes que ele voltasse para outra mulher?

A questão é que eu precisava ir embora.Eu já estava atrasada.Fazia mais de uma hora e meia que estavamos conversando sobre religião,pessoas,filosofia,personalidade,signos,amores,a vida.

-Preciso ir..
-A expressão de raiva que ela tinha no começo desapareceu,e ela parou de se preocupar aquele segundo com quem passava.
-Eu queria conversar mais com você...- e um risto triste,um pouco infantil tomou conta daquela mulher..
-Eu também,mas estou atrasada..
-Eu vou pensar sobre as coisas que você me disse,sobre encontrar um caminho para a minha vida,pegar o tempo que eu me irrito com as pessoas para pensar em mim,e quando eu encontrar com ele,lembrarei de você,da sua história e farei o que você me disse,sem orgulho,vou tentar!

Eu fiquei feliz,por pouco uma lágrima não escorre..

- Eu não te conheço,confundi você e você me ouviu e me disse coisas que ninguém nunca havia dito.Me tratou igual,me contou seus problemas... eu não vou esquecer de você Cynthia.
- Nem eu,espero que você deixe mesmo a raiva de lado,sinta as coisas boas,todos estamos fodidos de uma forma ou de outra,essa é a vida,(expliquei o Karma),e espero encontrar um dia vocês dois juntos,me faria feliz.

Ela se despediu de mim,como os olhos brilhando mas com um sorriso de quem sabia que talvez nunca mais voltasse á me encontrar e a única coisa que levaria embora era a imagem de uma garota com o cabelo colorido parada no vento então extremamente frio.
Eu havia saido de regata,estava calor.Depois eu tremia de frio.

As pessoas ainda achavam estranho.Me despedi de uma velha grande nova amiga.Que eu também sabia que talvez jamais voltaria a ver.Eu não tinha nada a oferecer á ela a não ser um Halls e algumas não sabedorias,mas experiencias minhas.

Espero que aquelas duas horas tenham mudado para melhor a vida da M. ,eu não joguei meu tempo fora,foi uma das coisas mais valiosas que eu poderia ter feito.

Isso aconteceu há um mês,pouco menos,mas só contei agora.Não é um conto,é um fato.

E o que mais me tocou foi o fato de que já aconteceu isso antes.Uma vez,um cara parou para contar para... que havia se ferrado com o sócio,a familia abandonado ele,talvez ele soubesse mais sobre Santos do que ..foi uma boa conversa.Mas aquele dia.. aquele dia foi um antes do dia que eu mais me arrependo na vida.Que por mais que nada pudesse ter mudado o rumo das coisas.Eu poderia ter olhado o mar por mais alguns segundos sem meu maldito orgulho.. e sem a dor que eu carrego até hoje.Dessa história.Desse homem,só nós sabemos.