domingo, 22 de fevereiro de 2009

Tragédia Carnavalesca

Ela entra no banheiro e se tranca.Deixando o corpo deslizar pela porta até encostar no chao gelado.Não consegue chorar,mal consegue respirar.Ela não quer fazer barulho mas sente que seu coração bate tão forte que todos podem estar ouvindo.Ela tem medo de ir dormir e não acordar nunca mais.

O suor escorre pelo rosto seco.Ela sente as mãos quentes mas estão frias.Ela esperava não te-lo nunca,mas em vida.O telefonema.A idéia de que ele estaria morto para sempre,na terra.A imagem de que ela jamais voltaria a toca-lo,abraça-lo e fingir um sorriso amigável enquanto queimava por dentro.Toda essa idéia a estava matando.
Ela precisava dele.Da presença dele.Da esperança de te-lo.Da certeza de que isso seria impossivel ainda que anos se passassem e da certeza de saber que isso não era certeza.

Ela ainda estava no chão mas se via no espelho.Os olhos ao invés de lágrimas se tornaram vidro e refletiam o que já estava sendo refletido.O vazio mostrando para o vazio o nada.Ela poderia se cortar,mas o sangue não era conveniente.Ela poderia tomar calmantes mas já estava dopada pois recebeu o telefonema antes de ir dormir.12mg.Alucinação.Ela precisava ter certeza,precisava ver,conferir.Havia anotado um telefone e um endereço.Não tinha certeza do que havia escrito e~não sabia se era alucinãção do remédio.
Ela se sentia morrendo a cada segundo.Não conseguia se levantar... havia perdido tudo o que nunca teve mas era a única razão para continuar ainda que em silêncio e no mesmo silêncio adormeceu encostada na porta do banheiro.
Medo de alguém ouvir? ela estava sozinha.Medo da certeza? Era fato.

Algumas pílulas e um pouco de alcool.Uma arma carregada.Duas balas.A roupa que ela mais gostava e uma chave.

E diante da multidão que observava quem ela tanto pensou amar.Ela atirou a chave no caixão e disse que ele poderia ter feito o que quisesse.Poderia ter estado com quem quisesse,ter casado,ter mil filhos e mil amantes.Poderia nunca mais ter olhado na cara dela mas jamais,jamais estar morto.

E o barulho da chave conflitou com o disparo.

E o azul ficou vermelho.