segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Visão

Eu,na foto do porta retratos na casa da minha avó,vestindo um vestido verde escuro ao lado do meu primo.Me senti tão grande.Me senti tão consciente de tudo,fiz pose,encarei bem o vestido,os pais orgulhosos e os avós também.Tanto que a foto está lá,na cômoda da sala...
Quanto mais o tempo passa,menor as coisas ficam.
Hoje pego o vestido na mão e parece roupa de boneca,da época em que talvez vissem uma boneca na minha imagem de menina.Mas hoje...me sinto tão grande e o vestido tão pequeno e me sinto tão pequena por pensar em como as coisas pequenas eram tão grandes...

E meu medo de entrar no colegial era tão grande quanto a minha ânsiedade para sair 3 anos depois...
E meu medo de nunca me apaixonar de verdade era tão grande quanto o medo na primeira vez em que eu me apaixonei de verdade...aos 18.
E agora eu me sinto intimidada com o valor disso tudo,porque amanhã,esse texto parecerá tão pequeno,tão bobo...

Hoje não sou mais a menininha do vestido verde.
Meu avô já não está mais aqui para vê-la na cômoda todos os dias...
A casa parece tão gelada quanto eu...
E o brilho nos meus olhos há 11 anos atrás eram mais verdadeiros do que meu brilho nos olhos agora.Porque agora é água que reflete,não espelho natural.

De que me vale ler tantos livros?
De que me vale adorar Don Juan e Casanova?
De que me vale saber jogar...se nem sempre é o talento que conta e sim a sorte...
De que me vale ter de cór(?) as atitudes,as regras,as frases feitas que eu iria ouvir...
De que me vale tudo sem saber o que é verdade...

Olhar para aquele rosto me deixa enjoada.
Mas e menininha do vestido verde jamais se sentiria assim ao olhar um rosto de alguém tão importante assim para ela.
E nada esta no lugar..

Inclusive,meu ensaio sobre como as coisas se tornam fáceis e sem graça com o tempo,foi para o lixo ao envolver questões pessoais.
Minha idéia de como tudo se desfaz com o tempo...

A menina do vestido verde enxergava na altura dela...algumas flores,joaninhas de estimação no vaso de flores no apartamento,balões de anivesário.Ela subia em cadeiras para ver as velas e assopra-las...e ao olhar para cima via o céu.

Hoje essa menina está aqui sentada quase 7 da manhã,vestindo um pijama que é praticamente uma camiseta do Santos disfarçada...enquanto reclama da vida.Reclama de olhar para a frente e ver uma multidão de tristeza,de sorrisos falsos,de mentiras nos olhos das pessoas que hoje encontram com os meus...cansadas...desmotivadas,e muitas com razão,outras como eu,não.

Mas...ao ter que subir no "forro" da casa com meu pai hoje...encontrei um jornal de 1987 (datado de antes de eu nascer) que tem uma chamada assim : "Corinthians perde novamente,até quanto isso irá durar?"...amanhã posto a foto dessa tragédia dita antes de eu nascer sobre meu time..
Enquanto logo ao lado... relatam uma vitória do Santos..

Que irônia,não?
Só não queimo a camiseta porque hoje é meu pijama e amanhã é raridade.
Mas é digno de se pensar no caso.Seria assim..como queimar a bandeira do meu país.

Mas

Espero que minha filha ( sim,menina) vista essa mesma camiseta e que me diga se sentir pequena dentro dela para que eu possa dizer que ela,minha filha,é muito maior do que qualquer coisa.
Só espero que apesar disso..ela não seja Santista.
Nada contra..claro,porém NADA a favor.

E já que ninguém me pergunta algo,que ao menos não fiquem pensando demais.Pensar demais as vezes nos faz pensar errado ...