terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Marina e o cavaleiro das trevas

"Marina em seu castelo de pedras frias.O vento cortante capaz de passar por todas as cortinas pesadas que escondem a visão do lado de fora do castelo.E ela está lá.Sentada em um lindo tapete vermelho de frente para a lareira.
A roupa incomoda um pouco.Espartilhos apertados até perder o fôlego.Sua mãe diz que é assim que uma dama deve se vestir e mostra para ela todas as formas de uma verdadeira dama se portar.
Marina se perde nas chamas dos troncos queimados.Quantas cartas de amor sem endereço ela queimou ali.Cartas que ninguém poderia jamais ter visto.Tão sinceras como se tivessem sido escritas para um amor real e não para uma invenção de sua fértil mente feminina... ela escrevia para alguém.Um alguém que não existia.O Cavaleiro das Trevas.
Ele era exatamente a imagem do homem ideal.Não que ela conhecesse muitos pois em suaposição de filha de uma família nobre,era sempre protegida e afastada de qualquer ser do sexo oposto que pudesse despertar algum interesse ou curiosidade.Mas ela não era boba.Instinto.
Uma linda biblioteca do castela e seu pai dizia: Romances são para mulheres,esses você pode ler a vontade,mas aqueles ali - e apontava - não chegue perto.Não é assunto seu.
Talvez se alguém algum dia tivesse pego alguma de suas cartas,ela poderia se defender dizendo que tirou a inspiração dos romances,mas isso faria com que até mesmo os livros fossem proíbidos á ela.Coisa que faria com que a solitária quase dama sofresse de tédio até morrer.
Mas era um dia de festa.Todos no castelo muito empolgados.Pães e vinhos.As mulheres riam em suas conversas fúteis e algumas delas apenas lamentava a forma como as regras eram rígidas para as mulheres.Outras não falavam nada.Marina sabia que provavelmente,quase certeza,de que antes de sairem de casa seus respectivos maridos haviam dito: Não se misture na vulgaridade das que sorriem...

Então ela avistou um belo jovem,da idade dela,talvez poucos anos mais velho.Arrumado,e passando pelo "treinamento" para ser um gentil cavalheiro.Ele fazia pose e a mantinha.Conversava calmamente sem exagero e falava sobre política e estratégias... então Marina teve certeza de que seu pai nem precisaria ter dado o aviso em relaão aos livros.Aquilo nunca lhe pareceu interessante.
Então ela fugiu...
Tarde.No auge da festa onde quem não estava bêbado estaa entretido em conversas desafiantes.
Mas ela não tinha para onde fugir até encontrar um forasteiro.Ele não fazia pose.Não parecia ser gentil.Não era das familias nobres.Não falava cada palavra exatamente como deveria ser dita.
Ela ficou assustada.Ele poderia fazer o que quisesse com ela,afinal,uma moça perdida nas redondezas de seu castelo.Ninguém ouviria seus gritos.
Mas ela não precisou gritar.Ele desceu de seu cavalo e perguntou o que fazia a... bem,a daminha perdida por ali.Ela chorou.Ele riu.
Ele acendeu um cigarro,ela se encantou com a brasa,era como uma miniatura da lareira,era familiar.
Ele tinha lá seus 30 anos,muito bem vividos por sinal.Quase nada era surpresa para ele a não ser a proximidade com a filha do Rei.Ele sabia sim que ela era a filha do Rei mais bem falado e sabia ainda,antes dela,que ela estava prometida para o jovem recem cavalheiro.
Ela parecia inocente.Ele parecia descrente.Mas Marina percebeu que todas as cartas de amor não foram estórias para exercitar sua imaginação... ali estava em sua frente a imagem do cavaleiro que ela tanto amou em palavras queimadas... mas como acreditar? como achar que era verdade? como saber se ele a amaria de tal forma? como amar um desconhecido nem um pouco gentil? como convencê-lo desse amor que para ele pareceria piada.Pois não havia razão.Não ha razão alguma quando alguém se apaixona,ou ama,ou gosta á primeira vista.
Ele riria dela.Ele lhe daria um beijo,um abraço,e diria que ela tem muito o que ver na vida ainda.
E ele não fez diferente.
Ele apenas disse.
"Volte para o castelo e siga sua vida.Não vale a pena uma dama em busca de liberdade em um lugar como esse... você ainda é jovem,muito jovem para entender o risco do risco da vida...eu posso te levar até a porta.."
Ela subiu no cavalo,muito sem jeito.Sentada de lado,como uma dama deve montar um cavalo.Ela estava na frente.Sentia a força daquele homem que o jovem rapaz não tinha.E se sentia aliviada por ele não sentir que seu coração batia extremamente rápido.
Ele deixou-a na porta.Sorriu.
Ela não sabia o que perguntar,sequer o nome dele ela ousou perguntar.
Então ele olhou nos olhos dela... sentiu o medo,sentiu que se ficasse ali mais um instante a levaria consigo.E seria injusto.
Mas ele era um homem.Em plena sanidade.Não acharia justo tira-la de seu destino honrado para uma vida sem traço algum... e assim se virou e foi embora.Ainda que seu coração pudesse ter batido tão rápido quanto o dela.Ele foi forte.Esperto e corajoso.Como um cavaleiro e não um cavalheiro qualquer daqueles da festa.
Desde então.
Marina morre aos poucos olhando pela janela...
Esperando que ele volte um dia,talvez para vê-la.Para busca-la.
Porque o coração de uma mulher é um túnel secreto para a realidade.
Porque Marina jamais,eu disse,jamais se esquecerá do que sentiu.Do que sentiu dela e do que sentiu vindo dele.
Mas a janela...
Ela deseja jamais sair dali...um segundo sequer.
E nas trevas elas morreria feliz."