sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Chocolate

Enquanto ela ensaiava comer a terceira fileira da barra de chocolate,já sem vontade,deixou o pensamento correr solto.Bem livre de qualquer regra e como sempre...

Ela se lembrava perfeitamente de quando ele abriu a porta do apartamento e passou a conduzi-lá pela mão até a janela,sem sequer acender as luzes.Ela ria enquanto tropeçava em algumas almofadas e um cobertor caindo do sofá.
Com pressa lá estava ela olhando para baixo,e as luzes dos prédios vizinhos,e as pessoas se movendo vivendo vidas estranhas dentro de outras janelas,e ele observava curioso tal ato.Então usou como desculpa dizer o nome da avenida que estava bem ali embaixo,para poder se aproximar bem dela e apontar para a tal podendo aproximar seu corpo mais ainda ao se inclinarem para olhar.Ela,que não pensou um só segundo em recuar,fez de tudo para que ficassem mais próximos ainda.
Ela não se lembraria amanhã,do nome da avenida.
Ele não fazia questão que ela se lembrasse mesmo.
Mas ficaram ali,o máximo que puderam usar do assunto.
O vento gelado ameaçou entrar pela janela quebrando o silêncio que já se acomodará entre os dois.Ele colocou suas mãos sob as dela no parapeito da janela,seus dedos se enroscavam ,uma brincadeira quase involuntária e assim se sentiam,se sentiam no sentido mais absoluto de sentir.A temperatura,a textura,e nessa brincadeira de descoberta as mãos dele foram sentindo cada centímetro dos braços dela até parar nos ombros e lá ficarem.Ela percebeu que ele havia notado sua respiração acelerando,e recuou envergonhada,dando a chance sem querer para que ele a segurasse com força e a mantivesse no lugar.As tais mãos desceram dos ombros pelas costas,o ponto fraco que ela não teve como disfarçar,pelo suspiro nem um pouco contido.Ele agora sabia e usaria isso até o fim.Enquanto ela sentia ser envolvida delicadamente e ao mesmo tempo devorada pelos olhos que refletiam no vidro,se deixou levar...
E enquanto uma mão permanecia nas costas,a outra subia se enroscando em seu cabelo e por instinto ele puxou-os com força para sí,deixando a nuca livre e o rosto quase de lado para que ela pudesse ver o leve beijo.Mas os olhos dela já estavam se fechando em completa redenção e a mão das costas então desceu para as coxas e a mão nos cabelos a virou de frente para ele e de costas para a cidade,para toda a cidade...
Olha-lo de frente foi como fogo e ela então puxou-o para um longo beijo extremamente molhado,por vontade.Ela sentia vontade dele,do gosto dele,de todo gosto vindo dele...

Então a barra de chocolate derretida em suas mãos, tirou-a de sua redenção em pensamento...e levando os dedos á boca,apenas sorriu maliciosamente ...agora então revivendo totalmente acordada a sequência detalhada de sua lembrança.

Sempre dele.
Ainda que infielmente seu...